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GUERRA TRAVADA NA FERROVIA DA ESPERANÇA

  • Ronaldo Oliveira
  • 14 de set. de 2016
  • 3 min de leitura

Após a extinção do “cemitério” de vagões, Iperó se torna referência no país.




Em uma ação inédita ocorrida em 2013 contra uma das empresas pertencentes ao homem mais rico do país (atualmente um dos 20 mais ricos do mundo), Jorge Paulo Lemann, fez com que o pequeno município de Iperó se tornasse referência nacional na história da luta jurídica brasileira.

O “cemitério” de vagões se tornou um dos problemas mais epidêmicos deste século. Apesar de ocorrer por todo o país, seu maior foco está situado no estado de São Paulo, onde pequenos municípios se tornaram praticamente pátios de sucatas deixadas pela extinta Federação Paulista S.A. (Fepasa) ao final do século passado, mais precisamente no ano de 1998.

Por quase cinco anos (2006 – 2011), a prefeitura de Iperó realizou diversas reuniões e enviou diversas notificações para que a América Latina Logística – ALL (detentora da malha ferroviária na região) tomasse alguma providência sobre o local abandonado, mas esta jamais demonstrou intenção de tomar qualquer providência sobre o assunto. Foi então que, após se cansarem do descaso com o qual a concessionária tratava o caso, o pequeno município declarou uma verdadeira guerra jurídica contra a ALL, esta que ficou conhecida como “A Guerra dos Vagões” no livro escrito (com o mesmo título) pelo advogado Solano de Camargo, em conjunto com o jornalista Hugo Augusto Rodrigues e o Historiador Sandro Antonio Canatelli, alguns dos principais personagens na vitória sobre a gigante concessionária.

A declarada guerra se arrastou por mais de dois anos, onde a pequena equipe jurídica (em relação a quantidade de pessoas) do município enfrentou frente a frente um dos maiores escritórios de advocacia do país. No início de setembro de 2013 a Justiça autorizou que a prefeitura realizasse o corte dos vagões. Com um trabalho de ampla repercussão na imprensa, a cidade conseguiu com que a Justiça mantivesse a liminar favorável ao município. Cerca de 30 vagões foram cortados e retirados por uma empresa contratada pela prefeitura especialmente para este trabalho. Diante de tal situação, em outubro do mesmo anos a ALL propôs um acordo para retirar os trens que ainda não haviam sido desmanchados. Por meio desse acordo apresentado à Justiça, a empresa levou mais de 300 vagões para Sorocaba, Botucatu, Presidente Prudente e interior do Paraná.

Após o final do processo de retirada dos vagões, permaneceu um litígio tributário originado por duas multas emitidas pela Prefeitura de Iperó à ALL cujos valores chegaram a R$ 7 milhões. Além disso, existe uma ação popular ambiental movida contra a empresa, proposta pelo ferroviário aposentado Luiz Lopes da Silva Filho, com uma liminar que impede a ALL de “depositar quaisquer novos dejetos de sucata, detritos, vagões imprestáveis, material inservível ou qualquer outro ativo ferroviário dentro dos limites territoriais da cidade de Iperó”.


O que mudou?


Três anos se passaram desde o processo de remoção dos mais de 320 vagões abandonados na antiga Estação Ferroviária Santo Antônio, em Iperó. Além da mudança visual por toda a paisagem do local, diversas projetos sociais e culturais tomaram o espaço antes abandonado. Diversas oficinas de aprendizagem foram montadas no local que veio a se tornar centro turístico da cidade.

Uma das principais ações realizadas foi em relação a restauração do patrimônio encontrado. Toda a Estação e a oficina foram restauradas por meio de um curso técnico desenvolvido pela prefeitura, onde os próprios alunos que participavam deste curso de restauro, em sua maioria jovens moradores da cidade, realizaram todo o trabalho de reestruturação e restauração dos prédios.

A antiga oficina deu lugar ao Centro de Convivência da Terceira Idade (CECONTI). a estação se tornou um espaço cultura onde já foram realizados alguns shows e que futuramente abrigará a base a Guarda Civil Municipal. No lugar da antiga oficina de soldas da ferrovia, será inaugurado o Centro Nacional de Balonismo.

Mas o mais importante de tudo é que a vitória desta “guerra” trouxe de volta a população e a várias cidades que sofrem do mesmo problema, a esperança.


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