EM ABUSO DE AUTORIDADE E HOMOFOBIA, JOVENS SÃO AGREDIDOS POR GUARDAS CIVIS EM TERMINAL RODOVIÁRIO
- Ane Caroline
- 25 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Polícia Civil investiga o caso de violência em Sorocaba (SP).


A Polícia Civil de Sorocaba (SP) investiga uma denúncia de agressão a quatro jovens no sábado (15), dentro do terminal Santo Antônio. As vítimas, que preferiram ser identificadas somente pelas iniciais do nome, L.O.N, R.M.S, C.N e P.L.M, afirmam que foram agredidos e xingados por guardas civis municipais. O grupo alega que foi vítima de homofobia.
Um dos envolvidos, L.O.N, diz que ele, o namorado, um amigo e a irmã chegaram ao terminal e no momento que adentraram discutiam. "Ele me segurava e eu tentava sair, não era um batendo no outro". O jovem diz que, a partir deste momento os guardas municipais se aproximaram e puxaram ele, R.M.S, que o segurava e que levou um dos guardas a sofrer uma queda. "A partir daí, ele levantou e deu um soco no rosto do R.M.S, que já ficou sangrando e desorientado". Ele ainda afirma que as imagens do vídeo divulgado são cortadas onde os guardas começaram a bater nos quatro jovens e se referirem a eles como "baitolas", "boiolas" e "viados". "Nos agrediram verbalmente e fisicamente pois foi demais para eles um casal homossexual ter um atrito no terminal, até os meus amigos apanharam". L.O.N diz que até mesmo seu amigo e sua irmã foram agredidos na ocasião. "Eles diziam "se quer ser homem, então vai apanhar igual homem", referindo-se à irmã do jovem por ela ser lésbica.
Em nota, a GCM (Guarda Civil Municipal) responsabiliza os quatro jovens e afirma que precisaram tomar uma "ação pontual por conta da exaltação dos envolvidos". A GCM esclarece ainda que interveio numa briga entre quatro pessoas de modo a conter a situação, e alega que foi necessária uma ação pontual por conta da exaltação dos envolvidos.
Os agredidos negam a culpa. "É aquela velha história muito real de culpar a vítima".
Examinado com algemas
Um dos jovens foi levado pelos guardas municipais até o pronto-atendimento da Zona Norte de Sorocaba onde foi examinado algemado, pois os guardas negaram estar com as chaves da algema, fazendo com que a enfermeira se negasse a aplicar a medicação. O rapaz fez um raio-X que foi entregue pela enfermeira diretamente para um dos guardas, e que ele não pôde ter acesso ao resultado do exame. No hospital, o jovem levou quatro pontos na sobrancelha e recebeu uma receita médica.
Na delegacia, os guardas registraram um boletim de ocorrência que aponta os jovens como autores da agressão. Eles afirmaram que os rapazes e a moça os agrediram chutando um dos guardas, que caiu no chão.
A GCM nega qualquer agressão intencional aos envolvidos e reforça o atendimento prestado a um dos rapazes na UPH Zona Norte que teria alegado estar ferido e afirma que o exame de raio-X realizado na unidade de saúde foi recolhido para registro de ocorrência. O exame foi apresentado ao delegado de plantão, que não fez uso, visto que não havia
laudo de comprometimento físico. A nota diz também que um dos guardas municipais também teve que passar por atendimento médico por ter sido mordido por um dos jovens.
Homofobia e manipulação da mídia
Os jovens acusam parte da mídia em omitir alguns fatos e inventar outros, divulgando um vídeo editado pela GCM. Eles alegam também que o motivo das agressões foi homofobia. "Eles foram motivados pelo ódio a nossa orientação sexual e não nossa conduta no terminal".
O jovem também acrescenta que não é só a mídia quem omite os fatos, mas as pessoas também. "As pessoas em geral não conseguem (ou fingem que não) entender que não foi o fato da nossa briga que gerou aquele espírito violento nos guardas, mas sim a homofobia, o ódio deles para com nossa orientação sexual".
Um dos jovens agredidos fez uma postagem no Facebook para tentar chamar a tenção das pessoas, mas confessa que já perdeu o apoio de muitas pessoas por conta de informações erradas. "Com aquelas filmagens cortadas e com aquela narrativa mentirosa, muitas pessoas, influenciadas por essa mídia manipuladora, deixaram de nos apoiar".
A publicação já teve mais de 3,5 mil acessos e compartilhamentos. Na postagem ele pede o apoio das pessoas para que seja compartilhada e mostra fotos dos hematomas no corpo.
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)
Nesta terça-feira (18), ocorreu uma reunião com a presença da Presidente da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB de Sorocaba, Dra. Luciana Kubo, o Dr. Márcio Leme, Vice-Presidente da OAB Sorocaba e os quatro jovens agredidos. Na reunião foi feita uma orientação detalhada sobre qual será a atuação da OAB no presente caso.
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