HIV: A FALTA DE INFORMAÇÃO QUE CAUSA SOFRIMENTO
- Kevin Poliser
- 26 de mar. de 2017
- 4 min de leitura
Pacientes relatam que o preconceito e a ausência de conhecimento da população causam mais impacto que o próprio vírus.

Desmistificando aquilo que a população acredita, HIV não é a AIDS. O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um vírus que invade as células do nosso sistema imunológico e trabalha lentamente no nosso organismo. O não tratamento faz com que o corpo fique vulnerável e o vírus se multiplique e se espalhe em toda corrente sanguínea, ocasionando assim doenças mais graves, inclusive a AIDS.
De acordo com a médica clínica geral, Danielle Niterói Ribeiro, “a pessoa portadora do HIV não obrigatoriamente desenvolve AIDS, algumas populações tem a capacidade de estarem infectadas pelo vírus e permanecerem assintomáticas, porém isso não interfere nos riscos de transmissão", afirma.

Ninguém necessariamente morre vítima da AIDS, mas sim de outras doenças adquiridas posteriormente a esse estágio. O paciente que é portador da doença pode vir a óbito por qualquer outro vírus por se tornar imunodeficiente. Como conta a médica: “Com a diminuição da capacidade imunológica do portador a síndrome em estágio avançado, favorece o aparecimento de doenças oportunistas, como tuberculose, pneumonia, toxoplasmose, monilíase oral, e câncer", relata.

O Ministério da Saúde estima que o Brasil seja um dos primeiros países adeptos ao tratamento de pacientes com HIV. Cerca de 110 mil habitantes não sabem ou não apresentaram os sintomas do vírus, mas há também quem aceite a medicação, como aqueles que descobrem precocemente o vírus e iniciam o método de tratamento, evitando a evolução do vírus. É o caso de pessoas que aderem a terapia antirretroviral, que tem efeito contrário aos retrovírus ela é constituída basicamente pelo uso de medicações, alimentação saudável, prática de exercícios físicos, consultas médicas regularmente.
Ainda segundo o Ministério, mais de 455 mil pessoas entre as 827 mil infectadas estão em fase de tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Cerca de 410 mil estão em fase de carga viral suprida, são o que chamamos de pacientes não detectáveis, pessoas que passaram pelo tratamento e tiveram êxito. Os pacientes que estão nessa etapa têm riscos baixíssimos de transmitir o vírus. Por se tratar de uma doença crônica que não há cura, a medicação continua por toda a vida.
A prevenção e o tratamento são disponibilizados pelo SUS
“Toda pessoa que se expor a qualquer comportamento de risco que propicie o contato com o HIV deve procurar um atendimento médico, pois os sintomas são inespecíficos, e podem simular várias outras doenças, quando se iniciam os quadros mais clássicos da síndrome, ou as infecções oportunistas já se trata de um estágio avançado da doença", declara a clínica geral, Danielle Niterói Ribeiro.
O SUS oferece gratuitamente o teste rápido que, em torno de 30 minutos, apresenta o resultado apontando se o paciente é ou não reagente as doenças sexualmente transmissíveis, como HIV, Hepatite do tipo B e C e o teste treponêmico que detecta anticorpos específicos para sífilis.
É oferecido também o PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV), uma terapia antirretroviral de 28 dias que impede que o vírus sobreviva e se multiplique no organismo. Essa terapia precisa ser iniciada no máximo 72 horas após uma relação de risco, nos casos em que o casal não usa preservativo, ou quando mesmo se rompe e afins.

Apesar de ser gratuito e um direito de cada cidadão e seus efeitos serem bastante positivos, não é tão simples quanto parece. Como relata Claudia Magno, que passa pelo tratamento PEP há cerca de 10 dias: “Me relacionei com uma pessoa que é soropositiva e atualmente não está reagente, transamos com preservativo e ele rompeu. Foi como se o mundo caísse diante dos meus olhos, mas eu não poderia parecer desesperada e mantive a calma. Fui até o posto de saúde que oferece este tipo de tratamento e iniciei o PEP. Primeiramente passei por uma consulta e expliquei o caso à médica, ela passou todo o coquetel de medicamentos e fiquei assustada com a quantidade de remédios, mas sabia que aquilo era necessário. Logo depois fiz um teste rápido e constatou como não reagente. Veio-me um alivio momentâneo, mas logo passou ao lembrar-me do tratamento que eu precisaria passar. No décimo dia senti enjoo, náuseas, dor no corpo, principalmente na cabeça e indisposição, efeitos contrários da medicação. Acredito que isso seja coisa de dias. Antes sentir isso por 28 dias do que a vida toda”, afirma.
É cedido também de gratuitamente toda a forma de prevenção, camisinhas masculinas e femininas, lubrificante com base de água e cartilhas de apoio para quem ainda tem dúvidas.
Se o resultado do exame der como reagente, é concedido ao paciente suporte médico, medicamentos, acompanhamento psicológico entre outros. Como relata Renato Russo, portador do HIV há cinco anos: “Em meados de 2012, tudo aconteceu no período de novembro a dezembro, eu fiquei muito doente e muito fraco. Como todo homossexual sempre tive medo dos tabus que envolviam a doença e após uma relação em outubro, comecei a assimilar uma coisa na outra. Foi dias de tortura, me sentia fraco fisicamente e mentalmente, não conseguia trabalhar e nem estudar. Durante esses dias me preparei psicologicamente para um resultado positivo, dito e feito. Senti meu mundo cair. Esperava minha morte. Porém os dias passaram, meses e anos. E vi que realmente isso e apenas um tabu. Claro não posso ser hipócrita e dizer que não é nada, mas vivo normalmente, sem restrições, tendo cuidados como qualquer pessoa teria em sua vida. Tomo toda medicação e hoje sou um paciente que é considerado não detectável apesar de ter que tomar a medicação o resto da vida. Nos relacionamentos sempre é complicado, aquele medo de encarar e por na mesa tal assunto, me sinto um espinheiro e que vou machucar quem esta a minha volta, mas não é bem assim. O que mais dói em mim não é carregar o tratamento o resto da vida e sim o peso do preconceito e da intolerância".
O vírus está presente no sêmen, sangue, leite materno e secreção vaginal. Mas o que pega ou não HIV?

Nessa matéria foram usados alguns nomes fictícios (exceto da Doutora Danielle) nomes de vítimas do HIV e AIDS dos anos 80 quando se foi descoberta a doença e não havia um tratamento eficaz. É de suma importância à busca pelo conhecimento das pessoas para cessar toda forma de preconceito e intolerância e nos unir-nos para lutarmos juntos contra o vírus.

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