A REFORMA DO ENSINO MÉDIO
- Luiz Tomé
- 30 de mar. de 2017
- 6 min de leitura
Entenda os motivos por trás da proposta que pretende transformar a grade curricular
Faz exatamente um mês que a reforma do ensino médio foi aprovada pelo governo do atual presidente Michel Temer. A então medida provisória que gerou um descontentamento por parte de professores e alunos, se desenrolou em diversos protestos por todo o país, sendo alvo de críticas por não estar em uma base democrática. Agora esta medida estabelece as novas diretrizes que a educação tende a tomar, tendo como principal ato uma série de mudanças na estrutura curricular.
Uma das principais mudanças está na grade curricular, das 13 disciplinas cursadas na maior parte das escolas do ensino médio, 60% delas serão obrigatórias, já as outras 40% optativas. Ou seja, português, matemática e inglês passam a serem obrigatórios nos três anos de ensino médio, enquanto a partir do segundo ano artes, educação física, sociologia e filosofia ficam como escolha pelo estudante ou pela demanda do estado. A chance de escolha sobre umas dessas áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e sociais aplicadas, são para despertar o interesse do aluno, para que possa vir a aprofundar seus estudos na área que mais se identificar, ou se preferir poderá escolher um curso técnico para formação profissional.
A mudança também trás o BNCC ( Base Nacional Comum Curricular), que estabelece uma obrigatoriedade na grade curricular de escolas públicas e particulares. Todas as escolas terão de aplicar conhecimentos essenciais, as competências e as aprendizagens pretendidas para crianças e jovens em cada etapa da educação básica. A carga horária passou de 800 para 1200 horas, o Governo anunciou um investimento de R$ 1,5 bilhões para que essas escolas sejam adaptadas ao período integral.

Um ensino fracassado, um aluno desmotivado
Édina Rosa, mestre em educação pela PUC-SP, participou em novembro do ano passado de um seminário internacional, onde foram discutidos os desafios curriculares do ensino médio e debates referentes ao tema.
Rosa explica que a reforma não começou de uma hora para outra, mas que na verdade as propostas da MP (medida provisória) são consequentes de um debate acumulado no país desde o ano de 2002 e estão relacionadas ao fracasso do ensino médio. Só para se ter noção a última pesquisa feita pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2015, mostrou que o ensino médio se mantém desde 2011 no mesmo patamar, ou seja sem alcançar as metas previstas pelo Ministério da Educação.
Em um rawking internacional, a situação não se mostra favorável, a última edição do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), foi realizada em 2015 em 70 países, e o Brasil obteve um desempenho bem abaixo da média, ficando entre as últimas posições.
Foi por meio desses resultados nada agradáveis sobre a educação no país, que o Governo do Estado decidiu fazer uma pesquisa junto ao ensino médio, para que pudesse saber do próprio aluno a opinião dele sobre o atual modelo de ensino. “A partir do momento que se pergunta ao aluno, este responde que o ensino médio não era atrativo, a partir deste momento começou a se ver do quê o aluno precisava: uma escola mais atrativa e ao mesmo tempo mais profissionalizante”, explica Rosa.
O estudante do ensino médio tem um grande desafio em ser imediatista. Quando você vive em uma sociedade consumista, precisa estudar e ao mesmo tempo trabalhar. A mestre diz que trabalhar enquanto se estuda pode levar o aluno ao desânimo e mais tarde a abandonar a escola. “Este foi um dos motivos pelos quais o Governo do Estado resolveu fazer uma mudança curricular, uma nova proposta para o ensino médio, para que o aluno tenha condições de optar, se ele quer fazer uma linha mais técnica ou uma linha mais acadêmica, ou seja, voltando se aos seus estudos e pensando no vestibular”.
Os desafios da reforma
Para haver mudanças o Governo do Estado pretende fazer algumas alterações curriculares, este se tornou o grande desafio. Foi apresentada uma proposta para a rede estadual, pensando nos professores, alunos e na própria sociedade que está inserida nessa escola. “O pai quer um filho que estude que esteja na escola com uma carga maior e que ele saia da escola com uma formação técnica, pensando no trabalho. Já o aluno pensa no imediato, há um grande questionamento se ele vai de fato trabalhar e estudar, por isso o ensino técnico, para que ele consiga fazer em uma carga horária diferenciada as duas coisas”, afirma a mestre em educação.
Rosa ainda fala sobre os professores efetivos da rede que estão questionando a proposta da nova grade curricular. “Os professores, especialmente os da área de ciências humanas estão preocupados, pois justamente essa é área onde existe uma maior abertura para que o professor possa levar o aluno a pensar, a desenvolver o senso crítico, e ela será de certa forma extinta”.
Cláudia Quaresma, professora de Artes, acredita que se for para pensar no aluno saindo da escola já com a formação de trabalho, então dessa forma a reforma seria interessante, porém não acha que essa reforma trará mudanças. “O nossos alunos estão despreocupados com essas alterações, então tanto faz essa reforma. Com relação a aula de Arte, ela é essencial, pois está instigando a curiosidade do aluno em se expressar. A arte se faz importante em qualquer época de sua formação”.
Sobre a mudança dos alunos estarem se preparando para o mercado do trabalho, a professora acredita que não haverá um bom retorno. “Os alunos da escola pública são desmotivados, se o aluno está interessado ele pode depois buscar a sua formação técnica”, finaliza a professora.
Rosa diz que apesar da reforma constar como uma medida provisória, o Governo ainda esta estudando o quê os professores pensam, o modo como a sociedade irá recebê-la e principalmente precisará ouvir muitas opiniões de alunos. Lembra ainda que a mudança não ocorrerá da noite para o dia, mas a longo prazo.
A expectativa dos jovens

Isabela Souza, 14 anos, cursa o oitavo ano e já está ciente sobre as principais mudanças. A garota diz ter achado o modelo muito interessante pelo fato de poder escolher, em partes, aquilo que irá estudar, mas não acredita que as escolas brasileiras terão infraestrutura para se adaptar ao horário integral. “Achei ótima a ideia da reforma, isso nos aproxima dos modelos das escolas internacionais, com foco no que queremos estudar, mas não creio que todas as escolas terão capacidade para manter este aluno”, diz a jovem.
A respeito de qual seria sua escolha, ela diz optar por um curso técnico, mesmo tendo uma opção distinta entre o que pretende estudar no ensino superior. “Quero estudar física, especificamente pretendo fazer astrofísica, com o ensino mais direcionado, estarei mais preparada para prestar o vestibular”.
Já Henrique Oliveira, 15 anos, aluno do primeiro ano do ensino médio, diz que caso a reforma seja implantada optará por escolher a formação técnica, pois quer trabalhar o quanto antes e nos dias de hoje está muito difícil arrumar um emprego. “Tenho um irmão que terminou o ensino médio e não conseguiu entrar na universidade, nem arrumar um emprego. Eles cobram dele uma experiência que ele não tem. Espero sair do ensino médio e ter mais sorte do que ele”, disse o estudante.
Henrique ressalta, ainda, sobre a dificuldade que o irmão mais velho tem em continuar os estudos. “Ultimamente ele tem tentado entrar em um cursinho pré-vestibular, mas até para isto tem que se fazer uma prova. E esta prova é difícil, são poucas vagas”, conta o jovem que acredita que situações como esta possam vim a diminuir com a implantação da reforma, ficando assim mais fácil ingressar no ensino superior ou se inserir no mercado de trabalho.
No cenário atual já se espera que o jovem termine o ensino médio e já comece a trabalhar. Mas isso não é possível, de acordo com Rosa, ter o diploma de ensino médio não é suficiente, não garante a colocação do jovem no mercado de trabalho.
Não sabemos se esse novo modelo de ensino trará resultados positivos para a educação em nosso país, mas sem dúvida investir na educação é uma das ferramentas necessárias para se mudar uma sociedade, como disse o grande pensador Paulo Freire “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
O novo ensino médio chegou numa época onde mudanças se fazem necessárias, mas tendem a serem construídas a longo prazo.
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